REVOLUÇÃO NA TERRA PLANA: CINISMO E TRANSFORMAÇÃO ADIADA
Resumo
Este artigo procura investigar as interações entre o cinismo social e
o estado de transformação ensaiada, no qual a aparência de mudança em geral disfarça o continuísmo das condições humanitárias e sociológicas. Para tanto, procurou-se traçar o perfil de um certo obscurantismo pós-moderno, que resgata ou cria crenças absurdas e completamente anti-factuais, modo de trazer à reflexão um fenômeno aparentemente pitoresco e marginal, mas que consegue referenciar uma forma de interação com a realidade que, ainda que pareça prescindir de qualquer plausibilidade, possui um razoável número de adeptos e notável projeção. A partir de então, se mostrou como esse cenário pode ser lido a partir do cinismo enquanto racionalidade própria do tempo atual,
o que deixará claro como é ele, o cinismo, o responsável por oferecer o suporte racional a um sistema que em situações normais estaria a ponto de destruição – ou seja: é o cinismo a força que permite a perturbadora perpetuação de um estado de emergência contínuo, no qual as alterações possíveis (o horizonte de expectativas) são a todo tempo ironizadas, e as modificações estruturais e subjetivas de relevo (as revoluções) são a todo tempo adiadas.