VOLUNTARIADO: A OUTRA FACE DA MOEDA
Resumo
O presente artigo busca desvelar a razão do (re) surgimento do voluntariado no Brasil,
especificamente, a partir da década de 90. Trata-se de numa prática antiga, que recentemente, se
tornou manchete de revistas e jornais, e adentrou a agenda política dos governos. No
levantamento bibliográfico, constatamos por meio de livros, revistas, artigos e endereços
eletrônicos, que grande parte desse material estimula a prática do voluntariado. Hoje existem:
legislação, perfil, mandamentos, dentre outros aspectos, que se referem ao voluntariado. Esse
aparato nos levou a indagar: Por que tudo isso foi criado? A interesse de quem? Quem seria o
maior beneficiado? Para responder essas questões, recorremos a diversos autores que tratam
desta temática com o objetivo de desmistificar as idéias que dão sustentação ao serviço voluntário
contemporâneo. As abordagens desses autores expressam perspectivas teóricas distintas. De
acordo com a literatura hegemônica sobre o tema, percebe-se que em um curto espaço de tempo
buscou-se organizar, legalizar e garantir sustentabilidade para a ação voluntária. Partindo do
principio de que um fato precisa ser analisado a partir do contexto social, econômico e político em
que ele está inserido, constatou-se que no debate teórico sobre o Estado, surgiram implicações e
determinações que possibilitaram a compreensão de que o voluntariado se apresenta como sendo
uma das alternativas de respostas para o enfrentamento das expressões da questão social, tendo
como espaço privilegiado de promoção e atuação, o terceiro setor. Neste cenário, o voluntariado
ressurge vinculado ao debate sobre o terceiro setor, inserido no processo de Reforma Estatal, que
apresenta como estratégia a desresponsabilização do Estado e a transferência do enfrentamento
dos problemas sociais para outro setor, que busca mobilizar a sociedade a assumir
voluntariamente o enfrentamento dos problemas sociais. De acordo com a perspectiva crítica de
análise, a razão em transferir a intervenção das expressões da questão social para o voluntariado
não ocorre, como muitos autores afirmam, por motivos de eficiência ou incapacidade do Estado. O
pretexto é fundamentalmente político-ideológico, de retirar da dimensão do direito universal do
cidadão, as políticas sociais estatais, desresponsabilizando o Estado de seu dever. Ao enfrentar
os problemas sociais de forma fragmentada, o voluntariado não toma consciência da gênese e do
desenvolvimento de tais problemas, ficando impossibilitado de enfrentá-lo dentro de uma ordem
social, que é seu fundamento. Desta forma, justifica-se o titulo deste estudo, que utiliza a moeda
como uma simbologia para expressar que o voluntariado tem duas faces: “cara”, que é analisada a
partir de uma lógica conservadora que legitima, promove e induz a prática voluntária; e “coroa”,
que por um ângulo critico, identifica quais são as determinações que justificam e sustentam o
serviço voluntário na atualidade.