ÁLCOOL BRASILEIRO: UM CRÔNICO CICLO DE CRISES

Fabio Jacinto da Silva

Resumo


O objetivo deste trabalho será demonstrar como a intricada relação entre governo e empresariado do setor sucroalcooleiro explica os atribulados ciclos vertiginoso e vicioso que, historicamente, geram as crises de oferta no mercado alcooleiro brasileiro, gerando desconfiança quanto à capacidade de abastecimento do setor sucroalcooleiro, apontando para a carência da definição de uma política energética confiável que estabilize preços em épocas de entressafra da cana-de-açúcar e que se mostre coerente com a nova realidade do mercado do álcool. No Brasil, o maior mercado do álcool carburante do mundo passou por vicissitudes devido às intervenções estatais, destacando-se: (i) a criação do IAA e da adição de álcool à gasolina, seguida da desvalorização do petróleo e a criação da PETROBRAS; (ii) a criação do PROALCOOL e do carro movido exclusivamente à álcool e o seu posterior abandono, e; (iii) o lançamento dos motores flex fuel no início do século XXI e o fantasma da escassez de álcool hidratado no mercado interno que, ainda hoje, preocupa os consumidores, mesmo sendo uma das cadeias mais produtivas do país. Por isso, frente ao reaquecimento do mercado consumidor e o apoio recebido dos ambientalistas, o setor sucroalcooleiro nacional mostra-se desorganizado e aprisionado à uma das principais causas da crise de oferta e que coloca em risco o abastecimento da crescente demanda em pleno século XXI: as limitações temporais das entressafras regionais da cana. Entendendo-se, assim, que a crise do álcool deve ser tratada como um assunto de segurança nacional, ficando evidente uma necessária mudança de comportamento dos agentes da cadeia no sentido de não mais se utilizar medidas paliativas para conter as sucessivas altas no preço do produto, mas aproveitar as perspectivas futuras para definir regras rígidas que garantam o contínuo abastecimento da demanda num longo prazo. Assim, a criação de estoques reguladores seria o primeiro passo para a estabilização oferta do álcool e dos preços no mercado interno, evitando-se qualquer tipo de tabelamento ou cota de produção, como nas últimas intervenções estatais frustradas da década de 80. Isso tudo porque desde a implantação do PROALCOOL, não se vislumbra perspectivas tão otimistas ao mercado de álcool brasileiro. Ao longo das últimas décadas, o setor passou por altos e baixos, mas não deixou de investir na cana-de-açúcar como fonte de energia renovável, mesmo quando o esgotamento das reservas de petróleo e o aquecimento global eram assuntos remotos, uma vez que o álcool, que sempre foi visto como o combustível do futuro, que se consolida como uma das mais eficientes alternativas energéticas para o mundo, que já sofre os nocivos efeitos da poluição atmosférica do carvão e do petróleo, que movem as economias.


Palavras-chave


Álcool brasileiro. Setor sucroalcooleiro. Intervencionismo estatal.

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