O SILÊNCIO DA VÍTIMA NA MANUTENÇÃO DA IMPUNIDADE EM CRIMES DE ABUSO SEXUAL NO BRASIL

Rafaela Santana dos SANTOS

Resumo


 

Anualmente 500 mil mulheres são estupradas no Brasil, mas esse número não expressa o verdadeiro cenário de nosso país. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) 70% das vítimas são crianças e adolescentes e apenas 10% denunciam o crime. O presente artigo busca promover a solidariedade da população na construção de uma cultura de respeito aos direitos humanos a partir do levantamento das causas que determinam a escolha da vitima em não denunciar. Além de avaliar a eficácia das ações realizadas pelo Estado contra a permanência da impunidade em crimes de abuso sexual, à luz do Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. Esta Política Pública apresenta duas diretrizes advindas do Plano Decenal dos Direitos das Crianças e Adolescentes, onde elucidam a atenção do Governo Federal em fomentar a universalização do acesso às vítimas e a necessidade de participação e protagonismo delas na elaboração de leis e programas. Os recursos metodológicos utilizados passam por levantamento de dados estáticos, estudo do real cumprimento normativo sobre o referido tema, observação dos trabalhos de atendimento às vitimas realizados dentro dos Núcleos de apoio nos Ministérios Públicos e Conselhos Tutelares, finalizando com a reflexão acerca das historias relatadas por algumas vítimas durante a pesquisa. A dificuldade em encontrar dados quantitativos e qualitativos atuais prejudica conclusões mais detalhadas, porém os resultados revelam que o fato do agressor ser em mais de 60% dos casos integrante da família ou amigo próximo dessa, influência radicalmente a vítima em não prestar queixa. Contudo, outros fatores como a religião, medo, falta de conhecimento dos direitos e garantias e a pobreza colaboram na decisão do silêncio da vítima. Em suma, a efetivação dos direitos humanos requer a colaboração da desconstrução do valor brasileiro de que ";problemas de família ninguém entra no meio";. A percepção de que a sociedade pode e deve cuidar do próximo vulnerável constitui avanço no entendimento da cidadania e, altera diretamente no quadro de impunidade vigente em nossa nação. É necessário o contínuo engajamento da proximidade das Instituições Públicas e de Sociedade Civil com as vítimas por meio da seguridade de sigilo e empatia de seus agentes, prosseguindo também com a expansão da informação nos meios de comunição e redes sociais a respeito dos direitos, com linguagem de fácil compreensão, sobre o que é o abuso sexual, as maneiras de denunciar o crime, as devidas medidas protetivas asseguradas às vítimas e os locais de acolhimento.


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