A VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES TRANSEXUAIS E A PSICANÁLISE
Resumo
O presente trabalho objetiva analisar os impactos da violência na saúde e na construção da subjetividade das mulheres trans na contemporaneidade. A base epistemológica utilizada é a psicanálise a partir dos pressupostos de Lacan, principalmente o conceito de estádio do espelho, que se situa no campo do Imaginário e, também, a relação da tríade Imaginário, Simbólico e Real na estruturação da subjetividade de alguém exposta à possibilidade dessa violência. Para isso foi realizado uma pesquisa bibliográfica com livros e artigos científicos. Tendo como ponto de partida as notícias que frequentemente fazem parte do cotidiano da sociedade brasileira, de crimes hostis e brutais, que acometem essa comunidade, mas noticiadas de maneira branda e superficial. Configurando assim, um desafio para a saúde e política pública. A mulher trans analisada dentro do estádio do espelho está constantemente questionando a sua própria existência e sexualidade, na construção do eu que faz parte daquele corpo o qual existe uma imagem idealizada, o reconhecimento de si, mas que por vezes não é reconhecida pelo Outro. Esse mesmo eu-corpo é frequentemente alvo das mais diferentes formas de agressão e incompreensão quase como se pertencer e existir fosse considerado uma doença ou negado esse direito de existir, existe o outro que a deseja, mas que também mata e quando essa agressão ocorre no imaginário - que está no campo da alienação - que depende do outro para existir e configurar-se. Tudo que é diferente ou estranho é tratado com aversão, a desconexão entre a imagem física, do corpo, que essas mulheres encaram quando se encontram em frente a sua própria imagem no espelho leva a distorções de imagens que afligem seu psiquismo, uma vez que a figura ali presente não corresponde com a que elas antes se identificavam. No campo simbólico, o sofrimento se faz presente na exclusão do ser na sociedade por meio da invalidação dos nomes sociais, não cumprimento de leis de proteção e nomenclaturas cisnormativas. E por fim, no campo da realidade se encontra o conjunto das experiências que essas mulheres lidam em seu cotidiano, em um processo de marginalização, descaso, abusos, agressões e assassinatos brutais. Diante desse cenário, é necessário que haja uma mobilização para o enfrentamento dessas violências e estratégias para mitigar esse sofrimento, visto que, o Brasil é o maior consumidor de pornografia trans e também o que mais assassina pessoas da comunidade trans. Espera-se que este estudo contribua com a investigação da gênese dessa problemática, assim como sua sustentação, além de impulsionar cada vez mais as discussões, reflexões e pesquisas acerca da sexualidade e do corpo trans e impedir a constante naturalização de um tema que deveria ser tratado com mais cuidado e seriedade.
Palavras-chave
Violência; Mulheres transexuais; Corpo; Psicanálise.