O sujeito fragmentado na era digital: o olhar como objeto a nas redes sociais
Resumo
Este artigo discute a constituição do sujeito a partir da psicanálise freudiana e lacaniana, articulando essas teorias com as transformações produzidas pela era digital. A partir de Freud, é apresentada a evolução do conceito de aparelho psíquico, desde seus primeiros modelos neurológicos até as formulações da primeira e segunda tópicas, destacando o caráter não linear e dinâmico de sua construção teórica. Em seguida, retoma-se a contribuição de Lacan, sobretudo o estádio do espelho, como experiência fundadora da subjetividade, na qual o eu se constitui em relação ao olhar e ao desejo do Outro, evidenciando o caráter alienado e fragmentado dessa constituição.
Na contemporaneidade, as redes sociais funcionam como novos “espelhos digitais”, nos quais o sujeito busca incessantemente reconhecimento e validação. A multiplicação de imagens idealizadas e a lógica da performance virtual produzem identidades instáveis, atravessadas por narcisismo e angústia. Nesse contexto, o olhar do Outro digital opera como objeto causa de desejo, sustentando uma dinâmica de visibilidade, mas também de esvaziamento subjetivo.
A análise articula ainda os conceitos de massa em Le Bon e Freud, mostrando como o comportamento coletivo — caracterizado pela sugestão, impulsividade e contágio afetivo — encontra nas redes sociais um novo espaço de manifestação. Os influenciadores digitais assumem o lugar simbólico de líderes, mobilizando identificações e reforçando padrões ideais que regulam desejos e comportamentos. Assim, o sujeito contemporâneo se vê dividido entre sua singularidade e a captura pelo imaginário coletivo, experimentando simultaneamente pertencimento e alienação.
Conclui-se que, embora as massas digitais se apresentem como novidade histórica, elas atualizam fenômenos descritos há mais de um século, reafirmando a atualidade das contribuições da psicanálise e da psicologia social. O sujeito, atravessado pelo olhar do Outro e pela lógica das massas, encontra nas redes sociais tanto um espaço de reconhecimento quanto um campo de fragilização de sua identidade.