PESQUISA E INOVAÇÃO PEDAGÓGICA: RELAÇÕES ENTRE METODOLOGIAS E APRENDIZAGEM DISCENTE

Maria Iolanda FONTANA, Irene Carmen Picone PRESTES

Resumo


Este trabalho discute a pesquisa como processo de formação continuada, desenvolvido na Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) para o desenvolvimento docente voltado as práticas pedagógicas inovadoras. Trata-se de um projeto de pesquisa-ação que tem o objetivo de preparar os professores para pesquisar sua própria prática, estabelecendo novos compromissos, de cunho crítico e inovador e melhorar a aprendizagem discente. Acredita-se no potencial formativo da pesquisa-ação na universidade, pois envolve a participação de um coletivo de professores no processo de problematização e desenvolvimento da pesquisa. Este entendimento justifica o projeto de pesquisa, em andamento, coordenado pelo Núcleo de Apoio Docente da UTP que envolve 51 professores de 33 cursos de graduação da universidade interessados em investigar e avaliar a relação entre a aprendizagem discente e a didática, considerando o uso de diferentes “metodologias ativas” para o aperfeiçoamento do processo ensino-aprendizagem. Em síntese, o projeto de formação dos professores por meio da pesquisa-ação pretende formar um coletivo de profissionais pesquisadores, capazes de compreender e aplicar teorias pedagógicas no âmbito da didática, a partir da elaboração de diagnósticos, da análise crítica das situações vividas e dos registros sobre a aprendizagem discente. A intervenção didática, no uso de metodologias ativas, no processo de investigação é considerada o ponto de partida e, sua inovação o ponto de chegada. Entende-se que as metodologias ativas se baseiam em formas de desenvolver o processo de aprender, utilizando experiências reais ou simuladas, visando às condições de solucionar, com sucesso, desafios advindos das atividades essenciais da prática social, em diferentes contextos (BERBEL, 2011, p.29). A inovação na perspectivapedagógica no ensino superior envolve ações planejadas com o propósito de valorizar a interação entre os sujeitos do processo pedagógico na produção/apropriação de conhecimentos para o exercício da prática profissional. As inovações pedagógicas propostas para cursos de graduação da UTP precisam, em suas reorganizações, de metodologias de ensino que atendam aos novos perfis propostos para os seus profissionais, em consonância com competências que desenvolvam as dimensões humanas e que estejam em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais de cursos, o Projeto de Desenvolvimento Institucional e Projeto Pedagógico de Curso. Segundo Cavalcanti (2017, p. 362) a inovação é pedagógica, quando se refere às medidas de intervenção em repostas às necessidades educacionais presente no cotidiano das instituições de ensino e abrange as metodologias e formas de interação entre os sujeitos envolvidos. Por meio da pesquisa sobre a própria prática dos docentes pretende-se refletir formas de superar metodologias consideradas tradicionais, que ainda permanecem presentes de forma significativa nas salas de aula, nas quais o professor é o centro de todo o processo de ensino e o acadêmico reproduz acriticamente o que lhe é transmitido. As Metodologias Ativas potencializam a interação entre os sujeitos envolvidos na atividade educativa e para promover a participação ativa no ensino e aprendizagem é importante que o docente trabalhe com o propósito de romper com o estado de passividade e de espectador do acadêmico. Assim, busca-se a autonomia discente que requer o conhecimento consciente e crítico do contexto social, ou seja, é necessário que o estudante tenha no seu processo de formação profissional a vinculação com as práticas sociais numa comunidade e o comprometimento com ações de responsabilidade social. A construção da autonomia para Petroni (2010, p.358) é a “capacidade que o sujeito adquire para formular as próprias leis e regras durante seu processo de desenvolvimento e por meio das relações estabelecidas com os outros, no contexto em que está inserido". A teoria de Lev Vygotsky, explica que o desenvolvimento e a aprendizagem do ser humano, são construídos relacionados a um contexto histórico-cultural em que o sujeito o processa de forma dinâmica e mediada por outro ser humano. Significa que o sentido que o sujeito atribui ao contexto, às ações e às relações estabelecidas coloca em relevância a mediação, pois é no processo de configurar as experiências vividas que o sujeito se desenvolve, por meio da atribuição de significados e sentidos próprios (PETRONI, 2010, p.362). É com essa intenção que a organização do ensino na educaçãosuperior e sua relação com a aprendizagem têm como premissa estabelecer a mediação entre o que o estudante sabe e o que deve aprender, cabendo ao professor planejar e sistematizar o ensino e aprendizagem dos conhecimentos cientifico-culturais de base geral e técnica necessária à formação integral do profissional. Pensar em autonomia implica reconhecer no estudante a ação da motivação intrínseca (motivação autônoma) no ambiente de aprendizagem, vinculada a vontade de aprender e a possibilidade de realizar à aprendizagem significativa com vias de integrá-la ao conhecimento de si mesmo. Os estudos de BERBEL (2011) voltados para a promoção da autonomia de alunos para atuação profissional esclarecem que “[...] o engajamento do aluno em relação a novas aprendizagens, pela compreensão, pela escolha e pelo interesse, é condição essencial para ampliar suas possibilidades de exercitar a liberdade e a autonomia na tomada de decisões em diferentes momentos do processo que vivencia [...]” (BERBEL, 2011, p.29-30). Portanto, para o desenvolvimento da autonomia discente, se faz necessário planejar o ensino e possibilitar aos discentes aprendizagens significativas para ação consciente e intencional frente aos objetivos e desafios da profissão nas relações sociais. Neste sentido, formar o professor/pesquisador, na relação dialógica com os discentes, demanda a reflexão de conceitos, procedimentos e atitudes necessários ao desenvolvimento da autonomia profissional, no contexto das práticas sociais e mundo do trabalho. Constata-se que o desenvolvimento do projeto de pesquisa-ação vem favorecendo o envolvimento dos docentes nas formações e em grupos de estudos sobre metodologias ativas, com o objetivo de apropriar-se do conteúdo pedagógico para inovar o trabalho educativo e construir referenciais de análise sobre o ensino e a aprendizagem. Os resultados revelam que no processo da pesquisa-ação, o compartilhamento de experiências da prática pedagógica tem motivado o coletivo dos docentes pesquisadores a refletir sobre o ensino e a buscar alternativas didáticas inovadoras para formação de profissionais competentes tecnicamente e socialmente comprometidos com formação profissional dos discentes para a humanização do trabalho e da sociedade.

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